terça-feira, 6 de outubro de 2009
Quase todos os nomes
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Efeitos pelas causas
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Fé de mais
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Um senhor razoável
sábado, 26 de setembro de 2009
Sobre meninas e lobas
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Sexo forte
domingo, 20 de setembro de 2009
Manual ou automático?
sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Palavras Cruzeiras
terça-feira, 15 de setembro de 2009
Parlapatões deblateram no Senado Nacional
Nalgum dia do início de Agosto, meus amigos e eu saltávamos de canal em canal, procurando por algum passa-tempo noturno. Calhou que pululou à nossa frente uma certa emissora, que, a priori, não é humorística, mas certamente proporciona boas risadas aos seus poucos telespectadores.
Tratava-se da tv Senado, no auge da crise Sarney. Na tribuna, estava o senador Pedro Simon a metralhar acusações para todos os lados. Debaixo do chumbo pesado, um dos atingidos pelos projéteis, o também senador Renan Calheiros, velho conhecido do povo brasileiro, defendia-se, retrucando seu acusador com diversas imputações. Até aqui, nada mais importante que um mero desentendimento rotineiro no senado. Mas o melhor ainda estava por vir, outro conhecido de longa data viria à baila. O Senador Fernando Collor de Mello começava sua esforçada e pungente defesa, escusada a ironia.
O ex-presidente brasileiro tagarelava ofegante, com ares de pouquíssimos amigos, excetuando Calheiros e Sarney, motivador primário das polêmicas surgidas. Poucas vezes o brasileiro mediano foi tão agraciado com um vocabulário daqueles. Da boca do político alagoano, jorravam palavras misteriosas que este humilde professor tentava recolher com seus ouvidos bem abertos. Uma enxurrada de latinismos e arcaísmos inundou o aparelho televisor. Tentávamos, para consultas futuras num dicionário de confiança, fisgar algumas palavras que, não obstante pesadas, boiavam a esmo. As palavras “parlapatão”, “deblaterar” e “epitomadário” (?), após certos esforços, foram resgatadas.
Ora, “parlapatão” não é palavra tão obscura assim. Significa tão somente o mesmo que “fanfarrão”, ou seja, aquele que se vangloria de ser corajoso sem de fato o ser. Tem relação com o radical “parl-”, o mesmo que aparece em “parlamento”, variação aparentada do vocábulo “palavra”. Já “deblaterar”, nosso ex-presidente buscou-a diretamente do Latim. Significa “gritar” e tem o mesmo radical modernamente presente em “bradar”, por exemplo. “Epitomadário” (?) – Collor que me perdoe a ignorância, pois estou totalmente incerto até quanto à grafia – não encontrei em dicionário algum. Talvez seja simplesmente aparentada de “epítome”, que significa resumo, sinopse, síntese. O que não elucida muito, já que me pareceu ter sido usada num tom bastante pejorativo.
Nosso idioma evoluiu do Latim, herdando diversas palavras com mais ou menos modificações em sua forma e significado, mescladas a toda sorte de vocabulário vindo de inúmeras outras línguas que tiveram contato com o Português ao longo da história. Outros latinismos foram introduzidos posteriormente, como símbolo de erudição e de cultismo.
Salvas as dúvidas vocabulares, restou-nos muito pouco que se aproveite da fala do Caçador de Marajás. Talvez seja essa mesma a estratégia escolhida, mudar o foco do conteúdo para os ornamentos, impressionando mesmo quando não se diz nada. Quantas vezes já não se viu essa prática dar certo? Brasileiros e brasileiras, com dicionários nas mãos, muito menos nos assusta!